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-⌂ Albergue Sépia ⌂-
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A inexistência de Heitor Costa em poemas.

A Paranoia Viciante da Liberdade

Instalei câmeras lá fora.
Sinto-me seguro, por hora.
Logo alguém virá.
O logo que não demora.

Antes era só uma senhora.
Agora, passam mil calhordas.
Irão me pegar.
Sinto a proximidade da hora.

Estou exausto.
Ou melhor: estou atado.
Não posso sair, não posso.
Conto os poucos passos.
Como viver nesse estado?
Não acredito no que ouço.

Estão barulhando!
Estão, novamente.
Liguei para alguém,
Mas esse alguém,
Não pode vir.

Estou desintegrando.
Estou, entrementes,
Escondido aquém
Da janela. Amém!
Estão a fugir.

Quem estão?
Eles estão.
Não é óbvio?
Não estou paranóico.

Estão roubando,
Matando, sonegando,
Sequestrando, esfaqueando,
Alvejando e ainda escapam.

Estou falando,
Ligando, gritando,
Estourando, balburdiando
E forças me faltam.

Tudo isso lá fora!
Acredita?
Pois sim, agora.
Olha.

Estou me precavendo,
Só isso.
Não quero que roubem
Os sapatos novos de meus
Pés. Eles são meus
E de mais ninguém.
Ninguém está me devendo.
Não é isso.

A insegurança anda tanta,
Que esqueci até meu nome.
Sinto-me seco, uma planta,
Mas minha fé não some!

Pronto! Resolvi a situação.
Mudei-me para outro planeta.
Aqui não há preocupação,
Já que no mundo real onde vivia,
Tinha de sair sempre em alerta.
Juro, toda vez que saía,
Encontrava um morto na valeta.

Aqui não temos drogas,
Só uma cervejinha.
Segunda começo num
emprego novo,
Pra esfriar a cabecinha.
Mesmo assim contratei
A iniciativa privada:
Segunda começam
A rondar minha quadra.

Dizem ser segurança forjada:
Eu não acredito.
Não estou paranóico;
Não é isso.
Gosto de minha vida pacata.
Amo muito tudo isso.