Era uma vez no século passado
A escada e o degrau
Separam você do sono.
Aceso está o tonto,
Morto em um vitral.
No meio da orelha
O ócio, a escarrar.
Rasgou-a inteira!
Sem pestanejar.
O horário comeu o sono,
Com o relógio a anunciar.
Um momento enfadonho
lento em seu desenrolar.
“Voe logo impaciência,
encontre outra cabeça.
Pois nessa residência
Não há mais pressa
E sim, resistência.”
Disse o tolo, a murmurar.
Logo seu travesseiro ouviu
E pôs-se a falar:
“Cale-se humano vil,
Estou tentando sonecar.”
Silenciou, então, coagido.
Em sua cabeça, rugidos;
O ponteiro a comentar:
“Quando irás acordar?”
Sem resposta, calou também.
Silêncio, silêncio sem mais.
Nada acontecia, nada mais.
O morto proferiu um amém,
Pois parara de respirar.
“Qual hora tenho de acordar?”
E então, partindo daquele dia,
Nada mais fora o mesmo,
Nada mais aconteceria.
O tempo, a esmo,
Tentou uma linha:
Encontrou o nada;
O nada, ainda.
“Será que tenho de acordar?”
Perguntou-se, sem vida.
O travesseiro, porém,
Não quis comentar.
O ponteiro, também
Resolvera se calar.
Naquele apartamento
Nada aconteceria
(Nada de mais).
Nem latido, nem lamento,
Nem rugido, nem vento.
Venderam o prédio todo
E esqueceram o morto,
A esperar.