=====================
-⌂ Albergue Sépia ⌂-
=====================
A inexistência de Heitor Costa em poemas.

Era uma vez no século passado

A escada e o degrau
Separam você do sono.
Aceso está o tonto,
Morto em um vitral.

No meio da orelha
O ócio, a escarrar.
Rasgou-a inteira!
Sem pestanejar.

O horário comeu o sono,
Com o relógio a anunciar.
Um momento enfadonho
lento em seu desenrolar.

“Voe logo impaciência,
encontre outra cabeça.
Pois nessa residência
Não há mais pressa
E sim, resistência.”
Disse o tolo, a murmurar.

Logo seu travesseiro ouviu
E pôs-se a falar:
“Cale-se humano vil,
Estou tentando sonecar.”

Silenciou, então, coagido.
Em sua cabeça, rugidos;
O ponteiro a comentar:
“Quando irás acordar?”

Sem resposta, calou também.
Silêncio, silêncio sem mais.
Nada acontecia, nada mais.
O morto proferiu um amém,
Pois parara de respirar.

“Qual hora tenho de acordar?”
E então, partindo daquele dia,
Nada mais fora o mesmo,
Nada mais aconteceria.
O tempo, a esmo,
Tentou uma linha:
Encontrou o nada;
O nada, ainda.

“Será que tenho de acordar?”
Perguntou-se, sem vida.
O travesseiro, porém,
Não quis comentar.
O ponteiro, também
Resolvera se calar.

Naquele apartamento
Nada aconteceria
(Nada de mais).
Nem latido, nem lamento,
Nem rugido, nem vento.
Venderam o prédio todo
E esqueceram o morto,
A esperar.