In absentia de delírios...
árvores delírios paredes simbolismoÁrvore empedrada na parede
branda, de branco engano.
Empunha a seco, sua sede,
em demanda pelo encanto.
A mando de seus captores,
desdenha galhos negros
que, em plenos horrores,
fornece a todos um certo
[sossego.
Naturalmente desbotada,
quisera ser mais esverdeada.
Por na parede estar empedrada,
agora, de cor maltratada,
chora, aos murmúrios, assustada.
“Quando irão tirar-me
deste branco enfeite
que chamam de parede,
e está a empedrar-me?
Já não é suficiente,
que, de brando deleite,
O dono dessa parede,
observe-me, como s’eu
[fosse enfeite?”
Seguiram e seguiram,
como se ignorassem-na.
Passaram e passaram,
segregados por lástimas.
Finalmente pode ela cantar,
pois, ao correr história,
pararam de lhe torturar.
Lh’explicaram o sentido
mostrando que, indo e vindo
os aviões continuarão seguindo.
Ela, a desacreditar, despedaça:
“Como assim, se, mesmo solta,
estarei eu presa a um sentido?
Essa indecisão me escorraça
a força e deixa-me tola.”
Murmurando, como no início,
prosseguiu, desbotando:
“Alguém pode vir comigo?”
Inconclusivo, o cenário escurece.
A noite adentra pela persiana
e o som dela, árvore, desfalece.
Ó, solene tristeza mundana,
trocaram ela, pobre árvore,
por uma pintura “bacana”.
Seus prantos não são mais ouvidos,
assim como sua saudosa sede.
Agora resta apenas a memória
fugindo da nova cor da parede.
Escondendo, sob galhos negros,
[seus ouvidos,
Escorraçaram-na da história;
Correndo, em sóbrio sentido.
Espaçou-se todo o enredo e,
como uma última vitória,
de cega sede e ímpio sentido,
proferiu, a mesma árvore do início:
“Ainda lhe ouço e sempre ouvirei.
Podes pintar-me ou cegar-me, não sei.
Apenas afirmo que, sem qualquer
esforço, gritar-lhe irei, pois sei que,
ao fim de tudo, você precisará de alguém.”