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-⌂ Albergue Sépia ⌂-
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A inexistência de Heitor Costa em poemas.

O pouco que Consegui (Desejo)

De Cabral à Cabral,
Seguem sugando o Rio.
Aportaram no canal:
Está pobre, vazio.

Todos sabem onde é:
Onde não há mal,
A fé segue em pé;
Conhece cada qual.

Há muita crença
E também, ouro;
O templo da bênção,
É como tesouro.

Abençoado luxo
Em tv aberta.
Aqui não há lucro:
Vivo até em favela.

Cortamos a plantação:
Com grilhões a machucar;
Imundo de café,
Este meu pão de açúcar.

Paulo virou são,
Após empreender fuga.
Preso, com muita fé,
Conseguiu boa conduta.

Aqui não há Marighella
Nem general comunista.
Só o que passa na tela,
No loló ou na pista.

Se não tenho,
Vendo por aí.
Mundo ferrenho,
Não dá pra dormir.

Não dá pra seguir;
Não compreendo.
Vendo por aqui
O pouco que tenho.

O eixo está magro:
Está superpopuloso.
Dizem estar viciado,
Dizem ser perigoso.

Falaram tanto dele
Que todos desceram
Para viver nele.
Pois é: perderam.

Agora o pato
É quem sempre pagou.
Brasileiro inato:
O mundo lhe largou.

Não, somos pragas,
Fadadas ao calor.
Sul sem asfalto.
Norte de mil caras.

Enquanto houver dia
Continuaremos, com amor.
Com a bossa e a fila.
Sem jeitinho, sem ardor.

Infelizmente querem explorar,
Deitarem sobre e rolar.
Felizmente vão presos:
Ternos novelhos e obesos.

A marginalidade existe:
É o Brasil inteiro.
Velhas capitais insistem:
Somos um País de extremos.

Li num livro de história
Sobre o descobrimento do País.
Estava vendo tv, outrora:
Falaram sobre a data divergir.

Fiquei perdido,
Não sabia em quem crer.
Depois, entendido,
Lembrei que não sabia ler.

Sou pobre, mas tenho um casebre:
Embora frágil e funesto,
Não há o que mais me alegre.
Isso é o pouco que tenho.

Coloquei as crianças para dormir,
Pois amanhã o batente é cedo.
Espero que a vida logo não me tirem:
Queria um Brasil sem medo.